quinta-feira, 26 de julho de 2012

Panorma Histórico do Município de Capinzal - Parte I


Introdução

Para melhor entender a maneira como ocorreu à colonização no Vale do Rio do Peixe e no povoado do Rio Capinzal, é necessário discorrer um pouco a respeito da construção da via férrea na região.

Volvamos, então para o ano de 1889, quando o Imperador Dom Pedro II sanciona a Lei Imperial n° 10.432; concedendo privilégios a João Teixeira Soares, para construir ferrovia ligando as províncias do sul com as demais do Império.
 
No entanto, em razão da situação política, essa lei ficou apenas no papel e somente anos após a proclamação de República seria colocada em prática e, com diversas alterações, as quais, modificariam a Lei original.

O trabalho na via férrea no Vale do Rio do Peixe  inicou no ano de 1908; e a empresa contratada foi a Brazil Railway Company que era comandada por Percival Farquhar; e o engenheiro responsável por essa obra  foi Achiles Stenghel. O término do trabalho no Estado de Santa Catarina foi em novembro de 1911. Reportagem veiculada em jornal de Campos Novos revela que:

"Não menos digno de notas é o fato da próxima passagem da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande do Sul por este Município.
O benefício já está fazendo sentir, além do movimento de trabalhadores e atividades que já se nota, a princípio, no nosso pequeno meio comercial, aparelhar-nos em futuro remoto, aparecermos com grandes cópias de produtos que produzimos. Sabido como é que o colono não dispõe de recursos, sofre privações de toda sorte até a primeira colheita. Para amenizar a situação, ele poderá achar trabalho remunerado durante a construção, quando os trabalhos de sua colônia permitir uma ausência temporária, ou quando puder deixar em casa alguém.
A partir do segundo ano, os seus produtos agrícolas, devidos á construção, ele os venderá em casa, sem ter a necessidade de oferecê-los aos negociantes e vendê-los por preço abaixo do mercado como hoje se pratica.
No terceiro ano, com a inauguração da estrada de ferro, o colono laborioso, não terá mais dúvida do futuro; saberá que as terras lhe garantem e a sua família a sobrevivência e um pecúlio na velhice; trabalhará com prazer porque diante de seus olhos a recompensa verá, pois terá por onde exportar, e, não somente os seus produtos como as lindas madeiras que existem às margens do Rio do Peixe; e também, os majestosos pinheiros que habitam o planalto, além de outros artigos que hajam sem valor desprezados” [1]

Percebe-se que a crônica teve o cuidado de dar uma visão sobre as possibilidades econômicas, porém, não se esqueceu de citar as dificuldades na comercialização dos produtos, e finalizando, cientificou da importância da estrada de ferro na conjuntura econômica regional.
[1] A Vanguarda. Ano: 1908. Campos Novos (SC). Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.
Florianópolis.

1. A gênese da denominação do povoado 

Segundo a opinião da maioria dos antigos moradores, o nome pelo qual a vila ficou conhecida, se originou da grande quantidade de capim que existia onde foram construídas as primeiras moradias do povoado.

O que não ficou esclarecido é a quem deve ser atribuída à escolha do nome pelo qual o lugar ficou conhecido.

Então, resolvemos perguntar aos moradores mais antigos o que eles sabiam sobre o nome do lugar.

Das respostas, surgiram três opiniões, a saber:

A primeira é daqueles que defendem que o nome deve-se a Antonio Lopes de Abreu; que por ser pecuarista ia freqüentemente a Sorocaba (SP) para comercializar gado bovino e muar.

Lopes, numa dessas viagens, segundo os simpatizantes dessa corrente para explicar o nome do lugar, trouxe sementes de capim-paulista para plantar em uma de suas propriedades e o local escolhido foi àquele perto de um rio; onde, mais tarde, seriam construídas as primeiras casas da Colônia Capinzal. E em razão da exuberância do capim próximo do rio, o lugar passou a ser conhecido como Rio Capinzal. 

Já para os integrantes da segunda hipótese para explicar a origem do nome do povoado; é de que a  designação deve-se aos tropeiros que transitavam pelo atual município de Capinzal com destino ao mercado paulista.

A terceira e última proposição é constituída por aqueles que asseveram que foram os engenheiros, empreiteiros e trabalhadores da estrada de ferro; que passaram a chamar o lugarejo de Estação Capinzal .

O fato é que o lugar era conhecido por Estação Capinzal ou Rio Capinzal, conforme artigos publicados no jornal “Vanguarda” de Campos Novos, no ano de 1911.

2. Os primeiros moradores

Segundo a tradição popular os primeiros moradores de Rio Capinzal, foram: João Vachi, Antônio Freitas, Carmine Zóccoli, Virgílio Urbano de Moraes, Leandro Padilha, Francisco Miguel, Frederico Alves, Adelino Ferreira, José Maria, e outros.

No entanto, pesquisa junto ao Cartório de Registro de Imóveis de Campos Novos, revelou que as propriedades mais antigas da Colônia Capinzal foram registradas em nome de Abílio Ricardo da Silva e Francisco Ricardo da Silva em 1908; e dois anos depois, seria registrada a propriedade em nome de João Japur e João Viecelli.

O registro de escritura de imóvel no distrito de Rio Capinzal, no ano de 1914, está em nome de Felisberto Ferreira dos Santos; e em 1915, está assentado em nome de Luiz Boff, e partir de então, outras propriedades foram escrituradas e registradas.

Importante anotar que os lotes da Colônia Capinzal pertenciam a Brazil Railway Company; ou a sua subsidiária, e abrangiam uma área de quinze quilômetros de extensão em linha reta da estrada de ferro[2].

Assim, os lotes,  só teriam a escritura pública definitiva, mediante a quitação das obrigações contratuais.

Acontece que boa parte dos primeiros moradores só pôde efetuar o pagamento de seu débito junto à empresa colonizadora; muitos anos depois de se estabelecerem na Colônia Capinzal.

Por isso, que no ano de 1908, os lotes comercializados e dentro da área pertencente a  Brasil Railway Cia, não tinham registro de escritura pública.

Mesmo assim, os mais antigos moradores, consideram que os primeiros habitantes da localidade são aqueles que por volta de 1908; construíram suas moradias nas cercanias onde hoje é o centro da cidade, não importando, se tinham ou não, a escritura pública do lote onde estavam edificadas as moradias.
 [2] Decretos, Leis e Resoluções – ano: 1908. Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.

3. Fatos históricos
O primeiro registro histórico ocorrido no atual município de Capinzal aconteceu na fase final da Revolução Federalista; quando a tropa de Gumercindo Saraiva e de seu irmão Aparício se encontraram em terras situadas no município de Campos Novos; com o objetivo de penetrar o solo gaúcho, no ano de 1894.

Os comandados por Gumercindo estavam desanimados pelas perdas no combate contra as forças legais do governo no Estado do Paraná; e agora enfrentavam a fome e um inverno rigoroso, mesmo assim, foram adiante com o desejo de retornar ao Estado do Rio Grande do Sul.

E no dia 31 de maio de 1894 em terras pertencente ao futuro distrito de Rio Capinzal, no local conhecido nos dias de hoje como Praia Bonita, houve uma batalha campal, aliás, a última em território catarinense; a partir de então,  esse local passou a ser denominado de: “Lagoa da Guerrilha”. Nesse sentido, Flores e Flores - Aspectos da Revolução de 1893. 2ª Edição Revisada. Martins Livreiro. Porto Alegre. Ano1999, p. 89 -  escrevem:

“As colunas de Gumercindo e de Aparício Saraiva se uniram perto de Campos Novos, em longa marcha em pleno inverno, percorrendo caminhos acidentados, com deserções contínuas, perdendo animais e armas. Quando atravessaram o rio Pelotas, a 31.5.1894 foi alcançada por 500 homens do sen. José Gomes Pinheiro Machado. Os federalistas deslocaram-se até Barracão onde descansaram dez dias. Estavam no Rio Grande do Sul.”

Colocadas essas observações sobre o primeiro acontecimento histórico, passamos comentar sobre a segunda ocorrência: A Guerra do Contestado.
Preliminarmente, anotando que a Estação Capinzal e Estação Rio do Peixe, pela  proximidade com o vizinho Estado do Rio Grande do Sul, eram elo importante de comunicação terrestre; por isso, poderiam ser alvo de ataque em uma convulsão militar.

Por este motivo, a população do povoado da Estação Capinzal; receosa de um possível ataque por tropas rebeldes (os chamados jagunços) cria a Guarda Civil, a qual foi idealizada pelo farmacêutico Cavalcanti.

Missiva que o Coronel Rupp encaminha ao Governo do Estado de Santa Catarina; dá uma idéia da importância estratégia da Estação Capinzal, cujo conteúdo é o seguinte:

“A nossa situação aqui de há meses não é para invejar. Quando tive notícia de que a cavalaria tinha chegado ao Rio Capinzal, fui encontrá-la até o Agudo, oferecendo o meu pouco concurso. Além da Restinga, os patriotas formaram e depois de diversas apresentações seguimos incorporados para a vila.
A força é de trezentos homens e 9 oficiais. Acamparam primeiro na trincheira e agora estão acampados na igreja nova no alto. Tantos praças como oficiais são muitos bons. O Major é muito distinto. No dia da chegada, e já em caminho, receberam ordens de seguir para Lages, mas a ordem foi revogada devido a diversas representações feitas por mim e outros.  Parece que os lageanos queriam fazer com a cavalaria o que eles fizeram  com o contingente do 54 destinado para nós. Mas, o plano falhou” [3].

Entendemos ser importante o registro desses eventos para a história de Capinzal.
3] BLASI, Paulo. Campos Novos um pouco de sua história. p. 140 e p.141.EDEME. 1994.


4. O comércio  na fase anterior a criação do distrito de rio Capinzal

A recente inauguração da estrada de ferro e a chegada de novos moradores na Colônia Capinzal foram fatores determinantes para o incremento do comércio local.

O fato é que no ano de 1910/1911 a Estação Capinzal, tinha algumas casas de comércio, destacando-se as seguintes: Carmine Zócolli & Filhos, Virgílio Urbano de Morais, Bernardino Macedo e João Japur

As duas primeiras estavam localizadas no núcleo central da Colônia Capinzal, e a última pertencente a João Japur, localizava-se na Entrada de Rio Capinzal, esse local é aquele,onde atualmente, há uma bifurcação que pelo lado direito vai à Piratuba e em linha reta para o Zortéa e Campos Novos.

Logicamente, havia no interior da Colônia Capinzal, onde passava o trilho da estrada de ferro, algumas casas comerciais, porém, não tinham o potencial daquelas que se estabeleceram no núcleo da Colônia.   

5. Visão geral do setor madeireiro

A extração da madeira começou no século XIX na região do Vale do Rio do Peixe; e os primeiros a remover madeira foram os caboclos que se utilizavam métodos rudimentares para extração dessa matéria prima.

Mais tarde, nas fazendas existentes e no sertão, surgem os engenhos à tração animal ou “pás d’água” que seriam a semente da indústria madeireira.

A necessidade de retirar em prazo menor a matéria-prima obrigou o setor a introduzir a máquina a vapor e posteriormente a serra-fita.

A exploração comercial organizada começou com a Souther Brazil Lumber, nos idos de 1906 em todo o Vale do Rio do Peixe e norte do Estado de Santa Catarina (Três Barras), onde se localizava a sede da empresa.

Essa empresa dominava o setor madeireiro e  era favorecida pela Brasil Railway Company; empresa responsável pela obra da estrada de ferro no Estado de Santa Catarina.  

A Lumber tentou monopolizar o comércio da madeira criando o “Sindicato de Madeiras do Brasil”.
Foi neste contexto econômico que no distrito de Rio Capinzal surgiram algumas madeireiras, assunto que será tratado em outro momento.


Sobre o blog

Aqui você encontrará anotações sobre fatos históricos do município de Capinzal (SC). É o resultado de pesquisa realizada em diversas fontes, as quais, estarão inseridas no final de cada artigo. O nome para esses artigos denominei de: Panorama Histórico do Município  de Capinzal - Santa Catarina.
Registro que essas anotações vão do ano de 1908 até 1965, com excessão da introdução trabalho.
Dou ciência de que parte dessa pesquisa foi publicada no jornal "O Tempo"de Capinzal (SC).
Sugestões, críticas, informações adicionais serão bem vindas.