Introdução
Para melhor entender a maneira como ocorreu à colonização no Vale do Rio do Peixe e no povoado do Rio Capinzal, é necessário discorrer um pouco a respeito da construção da via férrea na região.
Volvamos, então para o ano de 1889, quando o Imperador Dom Pedro II sanciona a Lei Imperial n° 10.432; concedendo privilégios a João Teixeira Soares, para construir ferrovia ligando as províncias do sul com as demais do Império.
No entanto, em razão da situação política, essa lei ficou apenas no papel e somente anos após a proclamação de República seria colocada em prática e, com diversas alterações, as quais, modificariam a Lei original.
O trabalho na via férrea no Vale do Rio do Peixe inicou no ano de 1908; e a empresa contratada foi a Brazil Railway Company que era comandada por Percival Farquhar; e o engenheiro responsável por essa obra foi Achiles Stenghel. O término do trabalho no Estado de Santa Catarina foi em novembro de 1911. Reportagem veiculada em jornal de Campos Novos revela que:
"Não menos digno de notas é o fato da próxima passagem da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande do Sul por este Município.
O benefício já está fazendo sentir, além do movimento de trabalhadores e atividades que já se nota, a princípio, no nosso pequeno meio comercial, aparelhar-nos em futuro remoto, aparecermos com grandes cópias de produtos que produzimos. Sabido como é que o colono não dispõe de recursos, sofre privações de toda sorte até a primeira colheita. Para amenizar a situação, ele poderá achar trabalho remunerado durante a construção, quando os trabalhos de sua colônia permitir uma ausência temporária, ou quando puder deixar em casa alguém.
A partir do segundo ano, os seus produtos agrícolas, devidos á construção, ele os venderá em casa, sem ter a necessidade de oferecê-los aos negociantes e vendê-los por preço abaixo do mercado como hoje se pratica.
No terceiro ano, com a inauguração da estrada de ferro, o colono laborioso, não terá mais dúvida do futuro; saberá que as terras lhe garantem e a sua família a sobrevivência e um pecúlio na velhice; trabalhará com prazer porque diante de seus olhos a recompensa verá, pois terá por onde exportar, e, não somente os seus produtos como as lindas madeiras que existem às margens do Rio do Peixe; e também, os majestosos pinheiros que habitam o planalto, além de outros artigos que hajam sem valor desprezados” [1]
Percebe-se que a crônica teve o cuidado de dar uma visão sobre as possibilidades econômicas, porém, não se esqueceu de citar as dificuldades na comercialização dos produtos, e finalizando, cientificou da importância da estrada de ferro na conjuntura econômica regional.
[1] A Vanguarda. Ano: 1908. Campos Novos (SC). Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.
Florianópolis.
1. A gênese da denominação do povoado
Segundo a opinião da maioria dos antigos moradores, o nome pelo qual a vila ficou conhecida, se originou da grande quantidade de capim que existia onde foram construídas as primeiras moradias do povoado.
O que não ficou esclarecido é a quem deve ser atribuída à escolha do nome pelo qual o lugar ficou conhecido.
Então, resolvemos perguntar aos moradores mais antigos o que eles sabiam sobre o nome do lugar.
Das respostas, surgiram três opiniões, a saber:
A primeira é daqueles que defendem que o nome deve-se a Antonio Lopes de Abreu; que por ser pecuarista ia freqüentemente a Sorocaba (SP) para comercializar gado bovino e muar.
Lopes, numa dessas viagens, segundo os simpatizantes dessa corrente para explicar o nome do lugar, trouxe sementes de capim-paulista para plantar em uma de suas propriedades e o local escolhido foi àquele perto de um rio; onde, mais tarde, seriam construídas as primeiras casas da Colônia Capinzal. E em razão da exuberância do capim próximo do rio, o lugar passou a ser conhecido como Rio Capinzal.
Já para os integrantes da segunda hipótese para explicar a origem do nome do povoado; é de que a designação deve-se aos tropeiros que transitavam pelo atual município de Capinzal com destino ao mercado paulista.
A terceira e última proposição é constituída por aqueles que asseveram que foram os engenheiros, empreiteiros e trabalhadores da estrada de ferro; que passaram a chamar o lugarejo de Estação Capinzal .
O fato é que o lugar era conhecido por Estação Capinzal ou Rio Capinzal, conforme artigos publicados no jornal “Vanguarda” de Campos Novos, no ano de 1911.
2. Os primeiros moradores
Segundo a tradição popular os primeiros moradores de Rio Capinzal, foram: João Vachi, Antônio Freitas, Carmine Zóccoli, Virgílio Urbano de Moraes, Leandro Padilha, Francisco Miguel, Frederico Alves, Adelino Ferreira, José Maria, e outros.
No entanto, pesquisa junto ao Cartório de Registro de Imóveis de Campos Novos, revelou que as propriedades mais antigas da Colônia Capinzal foram registradas em nome de Abílio Ricardo da Silva e Francisco Ricardo da Silva em 1908; e dois anos depois, seria registrada a propriedade em nome de João Japur e João Viecelli.
O registro de escritura de imóvel no distrito de Rio Capinzal, no ano de 1914, está em nome de Felisberto Ferreira dos Santos; e em 1915, está assentado em nome de Luiz Boff, e partir de então, outras propriedades foram escrituradas e registradas.
Importante anotar que os lotes da Colônia Capinzal pertenciam a Brazil Railway Company; ou a sua subsidiária, e abrangiam uma área de quinze quilômetros de extensão em linha reta da estrada de ferro[2].
Assim, os lotes, só teriam a escritura pública definitiva, mediante a quitação das obrigações contratuais.
Acontece que boa parte dos primeiros moradores só pôde efetuar o pagamento de seu débito junto à empresa colonizadora; muitos anos depois de se estabelecerem na Colônia Capinzal.
Por isso, que no ano de 1908, os lotes comercializados e dentro da área pertencente a Brasil Railway Cia, não tinham registro de escritura pública.
Mesmo assim, os mais antigos moradores, consideram que os primeiros habitantes da localidade são aqueles que por volta de 1908; construíram suas moradias nas cercanias onde hoje é o centro da cidade, não importando, se tinham ou não, a escritura pública do lote onde estavam edificadas as moradias.
[2] Decretos, Leis e Resoluções – ano: 1908. Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.
[2] Decretos, Leis e Resoluções – ano: 1908. Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.
3. Fatos históricos
O primeiro registro histórico ocorrido no atual município de Capinzal aconteceu na fase final da Revolução Federalista; quando a tropa de Gumercindo Saraiva e de seu irmão Aparício se encontraram em terras situadas no município de Campos Novos; com o objetivo de penetrar o solo gaúcho, no ano de 1894.
Os comandados por Gumercindo estavam desanimados pelas perdas no combate contra as forças legais do governo no Estado do Paraná; e agora enfrentavam a fome e um inverno rigoroso, mesmo assim, foram adiante com o desejo de retornar ao Estado do Rio Grande do Sul.
E no dia 31 de maio de 1894 em terras pertencente ao futuro distrito de Rio Capinzal, no local conhecido nos dias de hoje como Praia Bonita, houve uma batalha campal, aliás, a última em território catarinense; a partir de então, esse local passou a ser denominado de: “Lagoa da Guerrilha”. Nesse sentido, Flores e Flores - Aspectos da Revolução de 1893. 2ª Edição Revisada. Martins Livreiro. Porto Alegre. Ano1999, p. 89 - escrevem:
“As colunas de Gumercindo e de Aparício Saraiva se uniram perto de Campos Novos, em longa marcha em pleno inverno, percorrendo caminhos acidentados, com deserções contínuas, perdendo animais e armas. Quando atravessaram o rio Pelotas, a 31.5.1894 foi alcançada por 500 homens do sen. José Gomes Pinheiro Machado. Os federalistas deslocaram-se até Barracão onde descansaram dez dias. Estavam no Rio Grande do Sul.”
Colocadas essas observações sobre o primeiro acontecimento histórico, passamos comentar sobre a segunda ocorrência: A Guerra do Contestado.
Preliminarmente, anotando que a Estação Capinzal e Estação Rio do Peixe, pela proximidade com o vizinho Estado do Rio Grande do Sul, eram elo importante de comunicação terrestre; por isso, poderiam ser alvo de ataque em uma convulsão militar.
Por este motivo, a população do povoado da Estação Capinzal; receosa de um possível ataque por tropas rebeldes (os chamados jagunços) cria a Guarda Civil, a qual foi idealizada pelo farmacêutico Cavalcanti.
Missiva que o Coronel Rupp encaminha ao Governo do Estado de Santa Catarina; dá uma idéia da importância estratégia da Estação Capinzal, cujo conteúdo é o seguinte:
“A nossa situação aqui de há meses não é para invejar. Quando tive notícia de que a cavalaria tinha chegado ao Rio Capinzal, fui encontrá-la até o Agudo, oferecendo o meu pouco concurso. Além da Restinga, os patriotas formaram e depois de diversas apresentações seguimos incorporados para a vila.
A força é de trezentos homens e 9 oficiais. Acamparam primeiro na trincheira e agora estão acampados na igreja nova no alto. Tantos praças como oficiais são muitos bons. O Major é muito distinto. No dia da chegada, e já em caminho, receberam ordens de seguir para Lages, mas a ordem foi revogada devido a diversas representações feitas por mim e outros. Parece que os lageanos queriam fazer com a cavalaria o que eles fizeram com o contingente do 54 destinado para nós. Mas, o plano falhou” [3].
Entendemos ser importante o registro desses eventos para a história de Capinzal.
3] BLASI, Paulo. Campos Novos um pouco de sua história. p. 140 e p.141.EDEME. 1994.
4. O comércio na fase anterior a criação do distrito de rio Capinzal
A recente inauguração da estrada de ferro e a chegada de novos moradores na Colônia Capinzal foram fatores determinantes para o incremento do comércio local.
O fato é que no ano de 1910/1911 a Estação Capinzal, tinha algumas casas de comércio, destacando-se as seguintes: Carmine Zócolli & Filhos, Virgílio Urbano de Morais, Bernardino Macedo e João Japur
As duas primeiras estavam localizadas no núcleo central da Colônia Capinzal, e a última pertencente a João Japur, localizava-se na Entrada de Rio Capinzal, esse local é aquele,onde atualmente, há uma bifurcação que pelo lado direito vai à Piratuba e em linha reta para o Zortéa e Campos Novos.
Logicamente, havia no interior da Colônia Capinzal, onde passava o trilho da estrada de ferro, algumas casas comerciais, porém, não tinham o potencial daquelas que se estabeleceram no núcleo da Colônia.
5. Visão geral do setor madeireiro
A extração da madeira começou no século XIX na região do Vale do Rio do Peixe; e os primeiros a remover madeira foram os caboclos que se utilizavam métodos rudimentares para extração dessa matéria prima.
Mais tarde, nas fazendas existentes e no sertão, surgem os engenhos à tração animal ou “pás d’água” que seriam a semente da indústria madeireira.
A necessidade de retirar em prazo menor a matéria-prima obrigou o setor a introduzir a máquina a vapor e posteriormente a serra-fita.
A exploração comercial organizada começou com a Souther Brazil Lumber, nos idos de 1906 em todo o Vale do Rio do Peixe e norte do Estado de Santa Catarina (Três Barras), onde se localizava a sede da empresa.
Essa empresa dominava o setor madeireiro e era favorecida pela Brasil Railway Company; empresa responsável pela obra da estrada de ferro no Estado de Santa Catarina.
A Lumber tentou monopolizar o comércio da madeira criando o “Sindicato de Madeiras do Brasil”.
Foi neste contexto econômico que no distrito de Rio Capinzal surgiram algumas madeireiras, assunto que será tratado em outro momento.
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